sábado, 21 de abril de 2012

Resenha | Festa no Covil

Festa no Covil
Autor: Juan Pablo Villalobos.
Tradução: Andreia Moroni.
Páginas: 96.
ISBN: 9788535920260.
Editora: Companhia das Letras.

Sinopse:

O romance de estreia de Juan Pablo Villalobos é surpreendente em muitos sentidos. Breve e incisivo ao revelar a face mais violenta da realidade (não apenas) mexicana sob uma ótica insólita, entra no cânone da narcoliteratura sem ceder aos tiques próprios do subgênero. Em 'Festa no Covil', a vida íntima de um poderoso chefe do narcotráfico , Yolcault, ou "El Rey" é narrada pelo filho. Garoto de idade indefinida, curioso e inteligente, o pequeno herói, que vive trancado num "palácio" sem saber a verdade sobre o pai, reconta sem filtros morais o que presencia ou conhece pela boca dos empregados ou pela tevê. Seu passatempo é investigar secretamente os mistérios que entrevê, colecionar chapéus e palavras difíceis e pesquisar sobre samurais, reis da França e animais em extinção, sempre com o auxílio de seu preceptor, um escritor fracassado egresso da esquerda.

Olá, leitores. Hoje eu vou falar sobre esse pequeno livro da editora Companhia das Letras, mas com uma história muito bem escrita. Festa no Covil é uma cortesia da editora em parceria com o blog.

"Antes de dormir procurei no dicionário a palavra prestígio. Entendi que o prestígio se trata das pessoas terem uma ideia boa de você, de acharem que você é o máximo. Nesse caso você tem prestígio. Patético."
Pág. 28.

Festa no Covil é sobre um garoto que vive numa mansão em um lugar ermo do México com o pai e as outras treze ou catorze pessoas que ele conhece. Tochtli é considerado precoce para a sua idade – indefinida no livro. Mas se considera macho por não ficar chorando por não ter mãe. Dentre as coisas que ele mais ama, está sua coleção de chapéu e o dicionário com o qual ele descobre novas palavras antes de dormir. Mas o que mais Tochtli deseja é um hipopótamo anão da Libéria, uma criatura extremamente rara, e ele nos conta se conseguiu ou não esse intento.

Por conta da inocência de Tochtli, a gente não tem um conhecimento aprofundado sobre as coisas que acontecem ao seu redor. Isso foi proposital da parte do autor. Seja para poupá-lo o máximo da dura realidade que o cerca ou para prepará-lo para assumir seu lugar no futuro, Yocault, o "El Rey", pai de Tochtli, sempre esteve disposto a fazer todas as vontades do filho. Se Tochtli quer o hipopótamo, ele fará de tudo para o garoto ter um.

"É um teste infalível.Você começa a repetir uma coisa cem vezes e se continuar gostando, é porque é legal. Isso não serve só para nomes, mas para qualquer coisa, para a comida ou para as pessoas."
Pág. 54.

Um outro livro que eu li sobre uma história adulta contada sobre o prisma de uma criança foi Quarto, da Verus. É engraçado como os autores conseguem mostrar uma realidade tão complicada pelos olhos de uma criança, sem tirar a inocência da infância. Os dois meninos levam vidas bem diferentes: Jack nasceu em cativeiro e teve que presenciar, mesmo que de dentro de um armário, os abusos que a mãe sofria; Tochtli, de certo modo, também vive em cativeiro, mas praticamente nunca teve nada negado.

Eu particularmente achei a capa do livro bem mais bonita pessoalmente, com essa textura meio áspera. As páginas são em papel pólen, a fonte usada é de um tamanho razoável. A narrativa pelo ponto de vista de Tochtli é bem agradável e a gente mal percebe quando a história termina. Apesar de ser um livro bem curto, me peguei rindo, pensando e me questionando juntamente com esse narrador. É um livro para ser devorado de uma vez e relido sempre que possível.

"Eu conheço muitos mudos, três. Às vezes, quando falo com eles, eles tentam falar e abrem a boca. Mas continuam calados. Os mudos são misteriosos e enigmáticos. O que acontece é que com o silêncio a pessoa não pode dar explicações. O Mazatzin acha o contrário: diz que com o silêncio a gente aprende muita coisa."
Pág. 18/19.
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