segunda-feira, 2 de março de 2015

Artigo | Sobre religião e ideias preconcebidas

Eu pensei muito antes de postar esse texto aqui no blog. Na verdade, há umas duas semanas que eu venho postergando porque eu sei que é um assunto polêmico. Tão polêmico que criaram uma máxima para ele, dizendo que ela não se discute. Mas por que teríamos de ficar calados e não questionar quando não concordamos com algumas atitudes e palavras que ouvimos em alguns momentos do nosso dia a dia?

Eu falo isso por causa de uma situação que presenciei duas vezes seguidas enquanto pegava o ônibus para ir trabalhar. Sentei no meu lugar, peguei o livro que lia à época e comecei a leitura quando ouvi um senhor mais a frente começar uma pregação em voz alta, uma Bíblia gigantesca em mãos. Até aí, tudo bem. Foi quando o referido senhor começou a criticar negativamente a música Faz um milagre em mim, interpretada por Regis Danese. O seguinte trecho isolado foi motivo para o senhor desmerecer toda a canção:

"Como Zaqueu, eu quero subir
O mais alto que eu puder

Só pra Te ver, olhar para Ti
E chamar Sua atenção para mim"

Segundo ele, esse trecho vai contra o que a Bíblia ensina sobre humildade. Nessa música, Regis Danese estaria exaltando o homem, elevando-o a Deus simplesmente porque ele quer subir o mais alto que puder. Não seria muito fácil eu pegar um trecho da Bíblia e desvirtuar completamente seu significado? Há vários lá que deixam qualquer um de cabelo em pé. E outros me fazem questionar se é correto deixá-la mesmo nas mãos de uma criança, por causa da violência e baixo calão de expressões empregadas para transmitir a ideia geral de que Deus é amor.

Mas eu tenho certeza de que se eu fizesse isso, eu seria atacado por não ver o contexto em que elas se encontram. Não é irônico que uma pessoa que poderia muito bem falar isso para mim aja da mesma forma que a pessoa que ela criticaria?

Isso me leva a questionar mais uma coisa: que direito tem alguém de pregar sua crença para dezenas de pessoas no nosso país? O Brasil é um país laico. Isso quer dizer que qualquer pessoa tem o direito de seguir a religião que quiser, porque não há uma predominante. Outras formas de crer comumente não fazem manifestações públicas de sua fé. Só posso imaginar os motivos de espíritas não falarem de Allan Kardec ou mesmo dos umbandistas de seus orixás. Seria tão legal se houvesse respeito mútuo às pessoas que acreditam em algo. Somos várias cores, somos várias religiões, somos pessoas diferentes e nossas diferenças nos fazem especiais.

Eu fico pensando em como as pessoas gostam de distorcer tudo o que ouvem, veem e leem quando supostamente não convém aos ideais empurrados por suas gargantas. Ou mesmo por ignorância. Neste caso, eu não me refiro somente à religião e, sim, a todas as experiências por que passamos diariamente. Experiências transformam todos nós, as boas e ruins, e não podemos deixar que idealizações e frutos do nosso pensamento constante criem raízes tão fortes na nossa mente e passem por verdade ao ponto de não enxergarmos mais nada. De acreditar no que nossa mente criou embasada no que não veio do real e que não levará a lugar algum.
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